
As férias são um direito fundamental do trabalhador no Brasil, garantidas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). No entanto, muitas empresas, por descuido ou má gestão, acabam deixando de conceder esse direito, o que pode gerar sérias consequências legais e financeiras.
Neste artigo, vamos detalhar o que acontece se a empresa não der férias ao empregado, os direitos do trabalhador, multas previstas, e como agir em casos de descumprimento.
1. Entendendo o Direito às Férias
1.1 O que são férias trabalhistas
As férias são um período de descanso remunerado que o trabalhador tem direito após 12 meses de trabalho (período aquisitivo). Elas têm como objetivo garantir a saúde física e mental do empregado, promovendo descanso e lazer.
De acordo com a CLT, após cada período aquisitivo de 12 meses, o trabalhador tem direito a 30 dias corridos de férias. Esse período deve ser concedido pelo empregador nos 12 meses seguintes ao término do período aquisitivo, conhecido como período concessivo.
1.2 Direito à remuneração durante as férias
Além do descanso, o trabalhador recebe a remuneração das férias, que corresponde ao seu salário normal acrescido de, pelo menos, 1/3 do valor. Este adicional é um direito garantido pelo artigo 7º, inciso XVII, da Constituição Federal.
1.3 Tipos de férias
As férias podem ser divididas em diferentes modalidades:
Férias integrais: 30 dias de descanso.
Férias proporcionais: quando o empregado ainda não completou 12 meses de trabalho.
Férias coletivas: concedidas a todos os funcionários da empresa ou de determinados setores.
2. O que diz a CLT sobre a concessão de férias
A CLT estabelece regras claras sobre quando e como as férias devem ser concedidas:
Período aquisitivo: 12 meses de trabalho.
Período concessivo: o empregador tem até 12 meses após o término do período aquisitivo para conceder as férias.
Parcelamento: as férias podem ser divididas em até três períodos, sendo que um deles deve ter, no mínimo, 14 dias corridos.
Aviso: o empregador deve comunicar o trabalhador sobre as férias com antecedência mínima de 30 dias.
O descumprimento dessas regras gera responsabilidades legais para a empresa e direitos adicionais para o empregado.
3. O que acontece se a empresa não der férias ao empregado
Quando a empresa não concede férias, várias consequências podem ocorrer, tanto para o empregador quanto para o trabalhador. As principais são:
3.1 Férias vencidas e pagamento em dobro
Segundo o artigo 137 da CLT, caso o empregador não conceda férias no período correto, as férias se tornam vencidas e devem ser pagas em dobro ao empregado, incluindo o adicional de 1/3.
Exemplo: se um funcionário deveria ter tirado férias em janeiro de 2025 e a empresa não concedeu, ao pagar, terá que pagar o valor das férias mais 1/3 e em dobro pelo atraso.
3.2 Multas e penalidades
Além do pagamento em dobro, a empresa pode sofrer multas aplicadas pelo Ministério do Trabalho. A fiscalização pode aplicar multas administrativas caso constatem o descumprimento do direito às férias.
3.3 Acúmulo de férias
Se o empregador não concede as férias, elas podem se acumular. Embora seja comum que o trabalhador queira adiar o descanso, o acúmulo excessivo gera prejuízo à saúde e aumenta a responsabilidade da empresa, que terá que pagar valores significativos posteriormente.
3.4 Efeito sobre rescisão contratual
Se o funcionário for demitido sem ter usufruído das férias a que tinha direito, o empregador deve pagar todas as férias vencidas e proporcionais na rescisão, acrescidas do adicional de 1/3 e, se aplicável, em dobro.
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4. Direitos do empregado em caso de não concessão de férias
O trabalhador que não recebeu férias dentro do prazo pode reivindicar seus direitos judicialmente. Entre eles, destacam-se:
4.1 Pagamento em dobro
O empregado tem direito ao pagamento em dobro das férias não concedidas, incluindo remuneração e adicional de 1/3.
4.2 Reclamação trabalhista
O empregado pode entrar com uma ação na Justiça do Trabalho, solicitando:
Férias vencidas e proporcionais.
Adicional de 1/3.
Pagamento em dobro, se aplicável.
Multa por descumprimento.
4.3 Compensação de férias
Em alguns casos, é possível negociar férias acumuladas com a empresa, desde que haja concordância mútua. No entanto, a lei estabelece limites para o acúmulo.
5. Razões comuns para empresas não concederem férias
Apesar de ser um direito garantido, algumas empresas não concedem férias regularmente. As razões incluem:
Falha na gestão de recursos humanos: calendários de férias mal planejados.
Pressão por produtividade: alguns empregadores acreditam que o descanso reduz a produtividade.
Desconhecimento da lei: empresas pequenas ou informais podem desconhecer suas obrigações legais.
Problemas financeiros: atraso no pagamento das férias devido à falta de recursos.
6. Consequências para a empresa
Não conceder férias não afeta apenas o empregado; a empresa também sofre repercussões legais e financeiras. Entre elas:
6.1 Multas trabalhistas
O Ministério do Trabalho pode aplicar multas, que variam conforme o tamanho da empresa e o número de funcionários afetados.
6.2 Ações judiciais
Empregados podem entrar com ações individuais ou coletivas, o que gera custos com advogados e possíveis indenizações.
6.3 Impacto na imagem
Empresas que não respeitam direitos trabalhistas podem sofrer danos à reputação, afetando a atração e retenção de talentos.
7. Como o trabalhador pode agir
7.1 Comunicação interna
O primeiro passo é tentar resolver a questão internamente:
Conversar com o setor de RH.
Solicitar formalmente a marcação das férias.
7.2 Registro de evidências
É importante guardar:
Contrato de trabalho.
Comprovantes de comunicação.
Holerites e recibos de pagamento.
7.3 Reclamação formal
Se a empresa não resolver, o trabalhador pode:
Registrar denúncia no Ministério do Trabalho.
Entrar com ação na Justiça do Trabalho para requerer as férias vencidas e o pagamento em dobro.
8. Casos especiais e dúvidas frequentes
8.1 Férias proporcionais
Quando o empregado ainda não completou 12 meses, tem direito a férias proporcionais. A empresa deve pagar o valor correspondente aos meses trabalhados, acrescido do 1/3 constitucional.
8.2 Férias fracionadas
A CLT permite fracionar as férias em até três períodos, desde que um deles tenha, no mínimo, 14 dias corridos.
8.3 Férias coletivas
Mesmo em caso de férias coletivas, a empresa deve comunicar os empregados com 30 dias de antecedência. O não cumprimento pode gerar indenizações.
8.4 E se o empregado quiser adiar férias?
O trabalhador pode concordar em adiar suas férias, mas a decisão deve ser formalizada e registrada. O excesso de adiamento sem acordo pode gerar pagamento em dobro posteriormente.
9. Aspectos legais e jurisprudência
Diversos tribunais têm consolidado jurisprudência sobre o assunto:
O TRT da 2ª Região já decidiu que o não cumprimento do período concessivo gera direito ao pagamento em dobro.
O TST entende que o empregador é responsável mesmo que o atraso nas férias ocorra por falha administrativa.
Esses precedentes reforçam que a lei protege integralmente o direito do trabalhador ao descanso remunerado.
10. Conclusão
Garantir férias ao empregado não é apenas uma obrigação legal, mas também uma prática que promove bem-estar, saúde e produtividade. A empresa que não concede férias está sujeita a multas, pagamento em dobro, ações judiciais e danos à reputação.
O trabalhador, por sua vez, deve conhecer seus direitos e agir quando necessário, buscando resolver internamente ou, se preciso, judicialmente.
O trabalhador, por sua vez, deve conhecer seus direitos e agir quando necessário, buscando resolver internamente ou, se preciso, judicialmente.
Cumprir a legislação trabalhista é essencial para manter uma relação de confiança e segurança entre empregador e empregado.