Após quatro meses de crise com o Ocidente, a Rússia decidiu atacar a Ucrânia nesta quinta-feira (24), acirrando a mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Entenda como o conflito pode afetar a economia brasileira.
Petróleo e gás já estão mais caros
O preço do petróleo superou nesta quinta-feira (24) os US$ 100 pela primeira vez em mais de sete anos, depois que o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou uma operação militar para “proteger a população do Donbass”, a região do leste do vizinho.
A Rússia é um dos grandes produtores de petróleo, e um conflito militar afeta o mercado do produto. Além disso, sanções impostas pelos EUA e pela União Europeia também podem pressionar o preço da energia, direta e indiretamente.
Se a guerra provocar a interrupção do comércio euro-russo de combustíveis, os europeus terão que procurar energia em outra parte, em um mercado mundial que ficará ainda mais apertado e caro, a não ser que a Arábia Saudita traia a Rússia, sua aliada informal no cartel dos grandes produtores, e aumente sua produção do produto, escreveu o colunista da Folha Vinicius Torres Freire.
Os preços da gasolina no Brasil não devem subir imediatamente, porém, segundo o diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, Cláudio Mastella. Em entrevista nesta quinta-feira (24), ele afirmou que a empresa vai aguardar a evolução do cenário internacional antes de decidir por repasses da disparada da cotação do petróleo.
A Petrobras já vem sendo questionada pelo longo tempo sem reajustes em um cenário de alta nas cotações internacionais. Os últimos aumentos nos preços da gasolina e do diesel vendidos pela empresa foram feitos em 12 de janeiro.
A Ucrânia vende 17% do milho do mercado mundial, um peso relevante, embora fique atrás de EUA, Brasil e Argentina. Ucrânia e Rússia exportam 30% do trigo comprado pelo resto do planeta.
O trigo, um dos produtos mais sensíveis nesse conflito, devido à importância desses dois países do Leste Europeu no mercado internacional, atingiu US$ 9,26 por bushel (27,2 kg) na abertura desta quinta-feira (24) na Bolsa de Chicago, 5,7% acima do fechamento do dia anterior.
Desde quinta-feira (17), quando as tensões aumentaram, o cereal já
acumula alta de 17,4%. Isso vai custar caro para o Brasil, que importará
6,5 milhões de toneladas do cereal neste ano, escreve o colunista da Folha Mauro Zafalon.
O Brasil é um dos maiores importadores de trigo do mundo.
O setor agrícola, que já estava afetado por crises climáticas na América do Sul e em países do Mediterrâneo, regiões produtoras de grãos, vai sentir agora os efeitos das dificuldades de transações comerciais, devido às sanções e barreiras entre os países.
Instabilidade derruba o preço de ações e faz dólar subir
Sempre que há uma crise política grave, papéis de maior risco, como ações, são afetados. Após o anúncio da invasão, ações globais e mesmo títulos do Tesouro americano despencaram, enquanto as cotações do dólar, ouro e petróleo dispararam após tropas russas deslancharem um ataque contra a Ucrânia.
A busca por segurança global por parte dos investidores impulsionou o dólar, que subia mais de 0,5% em relação a cesta de moedas de seus principais parceiros comerciais. O euro, por sua vez, caía 0,8%.
Já a moeda russa, o rublo, despencou quase 8% mesmo após pausa na sua comercialização, atingindo patamar mais baixo já registrado. Banco Central russo anunciou intervenção no mercado para conter queda.
O movimento contaminou também os mercados de criptomoedas, fazendo o bitcoin cair abaixo dos US$ 35.000 pela primeira vez em um mês.
Energia, comida e dólar em alta pressionam ainda mais a inflação
Mesmo com o dólar fechando no Brasil nesta quarta-feira (23) a R$ 5,003, a menor cotação da moeda americana desde 30 de junho de 2021, as altas persistentes de petróleo e alimentos anulavam o possível alívio e evitavam que a inflação brasileira, já alta, cedesse.
O petróleo é a commodity que tem mais efeito sobre a inflação no Brasil, seguido pelas commodities agrícolas, segundo análise do Banco Central divulgada no final do ano passado.
Uma elevação de 10% no preço do barril de petróleo Brent tem impacto de 0,66 ponto percentual no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) após quatro trimestres, segundo estimativas apresentadas no último Relatório Trimestral de Inflação.
Além disso, já havia entre os economistas a avaliação de que a tendência para o real até o final do ano era de o real se desvalorizar (ou seja, a cotação do dólar subir), enquanto os preços das commodities tendem a continuar em patamar elevado.
Por isso, as projeções de inflação para 2022 continuam se deteriorando já mesmo antes do impacto da guerra sobre o dólar.
A guerra na Ucrânia afeta preços de petróleo, gás natural, grãos e óleo de cozinha, pelo menos, encarecendo alimentos também no Brasil.
Os preços da indústria brasileira, que já estavam pressionados por causa do dólar muito caro até dezembro e pela persistente escassez mundial de insumos, também devem sofrer novo impacto com a alta da moeda americana.
Instabilidade afeta o crescimento
A depender do tamanho da guerra, o impacto sobre a confiança econômica pode ser grande e se estender por pelo menos alguns meses, o que reduziria as perspectivas de crescimento econômico.
Empresários e investidores temerosos costumam adiar novos projetos ou expansões, o que significa menor oferta de emprego.
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