O movimento repete a edição de uma medida provisória (MP) para privatizar a Eletrobras, ontem, quando Bolsonaro também foi ao Congresso num gesto que foi visto mais como uma tentativa de mostrar aderência à agenda liberal o ministro da Economia, Paulo Guedes, após a crise gerada por sua interferência na Petrobras.
A medida ocorre na esteira da movimentação do Palácio do Planalto para sinalizar apoio à agenda de privatizações defendida por Paulo Guedes.
O caráter liberal do governo perdeu mais credibilidade após a decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar o comando da Petrobras, considerada por agentes do mercado uma intervenção na petroleira.
Num evento no Palácio do Planalto, pouco antes de ir ao Congresso, Bolsonaro negou que a entrega das privatizações de Eletrobras e Correios tenham relação com a crise na Petrobras, e disse o mesmo sobre a autonomia do Banco Central (BC), que sancionou naquela cerimônia:










— E minha querida imprensa, isso (autonomia do BC) não é uma resposta ao caso Petrobras. Não. Até porque isso já vinha sendo trabalhado há muito, bem como o projeto sobre os Correios, bem como a MP de ontem sobre o sistema elétrico. Nós, então, (estamos) abrindo, se integrando, democratizando não apenas no discurso, mas com atos, é que nós mostramos que o Brasil pode mudar.
Ainda sem modelo para vender Correios
Como mostrou o GLOBO em outubro, o governo finalizou um texto para destravar a privatização dos Correios no ano passado, mas a proposta não chegou a ser encaminhada ao Legislativo. O governo não descarta até mesmo a liquidação da estatal, mas ainda faltam estudos objetivos.
O texto não apresenta um modelo claro de privatização, mas abre possibilidades. O próprio governo acredita que o projeto só deva ser votado no fim do ano. Por isso, a privatização deve ficar para 2022.
A venda da estatal depende da regulamentação de um trecho da Constituição. Com exceção de subsidiárias, a desestatização de empresas públicas precisa de autorização dos parlamentares para avançar.
Funcionários questionam projeto sem estudo
Em comunicado, a Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), que se opõe à privatização, reagiu dizendo que "causa estranheza o governo apresentar ao Congresso Nacional um projeto antes mesmo de se ter a conclusão dos estudos em curso no BNDES, que, conforme noticiado antes, poderiam apontar até mesmo que os Corrreios deveriam permanecer como estão".
A entidade também afirma que é "motivo de preocupação" o fato de a sociedade não ter tido oportunidade de discutir previamente o tema, dada a falta de estudos sobre os resultados que poderiam ser colhidos.
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A Adcap afirma ainda que há poucos serviços postais privatizados no mundo, o que seria um sinal de que a medida não seria positiva em relação ao custo para a população, por exemplo.
Fim do monopólio de serviço postal
O projeto de venda da estatal permite que os serviços postais, inclusive os prestados em regime de monopólio possam ser explorados pela iniciativa privada.
A proposta disciplina o Sistema Nacional de Serviços Postais (SNSP), correspondências e objetos postais e emissão e fabricação de selos e o Serviço Postal Universal, cuja garantia de prestação é obrigatória da União, em todo o território nacional, de modo contínuo e a preços competitivos.
Outra novidade é a transformação dos Correios em sociedade de economia mista.
Segundo fontes a par das discussões, o projeto não significa, por si só, a extinção dos Correios. O objetivo é estimular a concorrência no setor, criando condições para a entrada do setor privado, em regime de concessão, cadastro ou parceria.
O modelo final a ser adotado para o setor ainda depende de estudos econômicos e setoriais.
Concorrência no radar
Entre os motivos alegados pelo governo para privatizar os Correios é a necessidade de ampliar os investimentos para enfrentar a concorrência no segmento de encomendas. A estatal investe apenas 2,8% da receita operacional, enquanto que FedEx e SingPost, a proporção fica entre 13% e 14%.
Outra questão diz respeito à situação financeira delicada da estatal, diante do peso elevado das despesas com pessoal. Esse gasto representa 64% dos seus custos totais da empresa, são quase 100 mil funcionários, “tornando-a uma das empresas postais com maior custo relativo de pessoal do mundo”, diz a nota técnica.
Além disso, a estatal apresenta ineficiências operacionais, a relação custo total e receitas supera 90%.
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