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'É um mito que as mulheres não são boas em tecnologia'


Empreendedora e ativista pela diversidade, Ann O'Dea participou de debate no Centro Brasileiro de Relações Internacionais
 
Pode contar um pouco da sua experiência?

Sou cofundadora da Silicon Republic, publicação líder na Europa sobre ciência, tecnologia e inovação. Ela é baseada em Dublin, mas com 3,5 milhões de leitores em todo o mundo. Há cerca de dez anos, começamos a debater a questão da diversidade no setor, porque a área de STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática) era muito homogênea, formada por homens brancos de classe média, excluindo minorias, mulheres e pessoas com deficiência.


Nesses dez anos, você viu mudanças positivas?


Para ser honesta, há dez anos, quando começamos, nós pensávamos que a questão estaria resolvida hoje. Éramos um pouco ingênuos. Nós esperávamos que estaríamos numa situação muito melhor, mas na realidade algumas estatísticas estão retrocedendo. Mas, dito isso, o que vemos é a nova geração chegando com uma grande demanda por talentos, muito interessada na diversidade. As pesquisas mostram que os jovens querem trabalhar em organizações que valorizem a tolerância, a diversidade, tenham propósitos. Então, as organizações estão trabalhando duro para resolver a questão da diversidade.


Quais as principais barreiras para as mulheres? 
 
São tantas! Existem as óbvias, à moda antiga: sexismo, preconceito e estereótipo que ainda existem. Existe um problema que começa na escola e empurra as meninas para outras disciplinas, não para a Física e a Ciência. O problema fica maior quando se entra na indústria. Se existe uma empresa onde apenas 5% dos funcionários são mulheres, elas vão embora. As pesquisas mostram que, em média, as mulheres deixam a carreira em tecnologia após 7 anos e vão para outras áreas. Então, temos que tornar as organizações mais acolhedoras para as mulheres e menos masculinas.

Como fazer isso?

No recrutamento, por exemplo. Os anúncios de vagas normalmente são muito masculinos. Eles procuram por “ninjas”, para “destruir a competição”. São palavras do universo masculino, que afastam as mulheres.

O sexismo está presente na nossa sociedade, por que esse movimento é tão forte no setor de tecnologia?

Porque a situação é muito ruim. Se você olhar, houve boas melhoras no setor financeiro, avanços ótimos no campo do Direito, mas não na tecnologia. Por isso eu digo que tudo começa com as crianças. Existe uma percepção de que as meninas não são boas em Matemática, que não são boas em Ciências. Há alguns anos, a Sheryl Sandberg disse que não existem mulheres em número suficiente em Ciências da Computação porque não existem mulheres em número suficiente em Ciências da Computação.

E como atrair as mulheres?


Eu acredito que as mulheres não encontram espaço no campo, não enxergam exemplos, como Mark Zuckerberg e Steve Jobs. Elas não veem as mulheres incríveis, porque elas não estão nos níveis mais altos. Por isso, não percebem que existe uma carreira fabulosa.

Nós tivemos mulheres incríveis na área de tecnologia, mas a História não dá crédito. 

Sim! Nós tivemos Hedy Lammar, Grace Hopper, Ada Lovelace... Eu sempre uso a História para demonstrar que é um mito que as mulheres não são boas em ciências e tecnologia. Nos primeiros anos da computação, todas as programadoras de computador eram mulheres. O que aconteceu, na minha visão, é que esses empregos se tornaram mais importantes, começaram a pagar mais, então os homens se interessaram e empurraram as mulheres para fora. 
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