Escrito por Fabiano Elisei Serra
Ginecologia e Obstetrícia - CRM 154450/SP
Por Especialistas - Em 19/7/2018
Você já pensou em parar o anticoncepcional e ficou se perguntando como? Inicialmente pode haver um desespero e uma enxurrada de dúvidas, principalmente para mulheres que já fazem o uso há muito tempo e estão completamente adaptadas.
A primeira consideração a ser feita é a necessidade de consulta com seu ginecologista para avaliar as vantagens e desvantagens de uma forma individualizada, mas a decisão e escolha será sempre SUA!
De uma maneira geral, deve-se avaliar se o motivo do uso do anticoncepcional foi somente o controle de gravidez ou se estava relacionado, também, ao controle de alguma alteração hormonal ou de alguma doença. Entenda melhor os motivos que levam as mulheres a pararem o anticoncepcional e veja em qual você se enquadra.
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Motivos que levam à parada do anticoncepcional
1. "Quero parar de tomar para engravidar"
Se o seu desejo for ficar grávida, antes de parar o anticoncepcional, vale a pena uma consulta pré-concepcional para avaliação da saúde como um todo. Seu médico orientará quanto à necessidade do uso do ácido fólico. Em relação ao retorno à fertilidade, pode ser imediato ou em curto prazo para pacientes que usam métodos orais (pílula), adesivo, anel vaginal ou DIU (cobre ou Levonorgestrel - Mirena). Para aquelas que fazem uso de injetáveis, o retorno à fertilidade pode ser mais demorado.
2. "Quero conhecer meu corpo"
É cada vez mais comum, mulheres que fizeram o uso de anticoncepcional por vários anos (algumas desde os 14-15 anos de idade) e optam por se conhecer, para entender como é o ciclo, o fluxo menstrual, suas variações hormonais, influência em pele e cabelos e no apetite sexual. Tudo isto é realmente válido, desde que a mulher seja bem orientada em relação às alterações que ocorrerão e sobre possibilidade de gravidez, caso não se previna de outras formas (camisinha, por exemplo). Para estes casos, uma alternativa importante mantendo-se a anticoncepção é a inserção do DIU de Cobre, que não possui hormônios e portanto não modifica os hormônios naturais produzidos pelo corpo (em algumas pode aumentar o fluxo menstrual e as cólicas).
3. "Tenho medo de trombose"
3. "Tenho medo de trombose"
Antes de mais nada, é importante dizer que existe sim um aumento no risco de trombose para pacientes que usam anticoncepcionais com estrogênio, porém este aumento de risco (em número absoluto) é relativamente baixo. Na população geral, existe a possibilidade de se ter trombose independentemente do uso de hormônios. Este risco é de cerca de 3-4 casos a cada 10000 mulheres. Nas mulheres que fazem uso com estrogênio este número sobe para 6-8 a cada 10000 mulheres. É sempre bom comparar com o risco de trombose na gravidez e pós-parto que pode assumir números maiores que 40 a cada 10000 mulheres.
4. "Engordei por causa do anticoncepcional"
Dificilmente o ganho de peso está relacionado ao uso do anticoncepcional. Alguns podem, de fato, fazer retenção de líquidos e, por isso, dão a sensação de que houve ganho de gordura. Existem, porém, formulações com baixa dosagem e com componente diurético que melhoram esta alteração. Ganhos de peso importantes, em geral, não estão relacionados ao uso anticoncepcional.
5. "Minha libido está muito baixa"
Se seu apetite sexual está reduzido, realmente pode estar associado ao uso do anticoncepcional. Vale observar se este ocorrido é recente ou é algo que se iniciou com o uso, no intuito de diferenciar de outras causas de queda de libido. Algumas mulheres relatam aumento de libido com os hormônios. Conversar com seu médico pode te ajudar a elucidar. Uma boa alternativa é o DIU de cobre se a suspeita for forte.
É importante lembrar que algumas mulheres fazem uso dos anticoncepcionais como tratamento de alterações ou doenças como endometriose, adenomiose, síndrome dos ovários policísticos, controle de irregularidade menstrual, cólicas menstruais, fluxo intenso, controle de aparecimento de pelos e de acne e para redução da famosa TPM. Nestes casos, deve-se avaliar a suspensão do anticoncepcional com muito mais critério.
Passada a fase de entender os motivos e alternativas, segue-se a fase de preparação. Atividades físicas regulares, alimentação balanceada e exercícios de relaxamento podem ser importantes para o adequado controle das variações hormonais durante o ciclo. É bom aproveitar este momento para se valorizar e se cuidar um pouco mais.
Mas, e agora? Como parar?
Após entender os motivos pelo qual você está decidindo para o anticoncepcional, deve-se procurar o médico pois cada método possui uma variação de hormônios e uso. Veja abaixo como interromper a utilização de cada tipo:
- Pílula: Se pílula de uso contínuo, pode-se parar em qualquer momento. Se pílulas com pausa, parar na pausa para evitar sangramentos de escape. É sempre bom lembrar que sua primeira menstruação natural pode demorar um pouco, cerca de 1 a 3 meses
- Adesivo: Retire o adesivo no fim da validade. A menstruação natural pode demorar uns poucos meses para voltar.
- Implante hormonal subcutâneo: Neste caso você vai depender do auxílio de um médico para o procedimento, que deve ser feito com anestesia local e com material esterilizado. Os níveis de progestagênio liberado pelo implante caem imediatamente, mas o retorno com a menstruação natural é muito variável
- Injeção de anticoncepcional: Pode-se parar as injeções imediatamente. São definitivamente os que mais demoram com o retorno à fertilidade. Há casos de mulheres que demoram mais de um ano para menstruar regularmente. Para aquelas que têm desejo de gravidez breve, porém não de imediato, vale a pena pensar em outro método de contracepção, inclusive métodos de barreira
- Anel vaginal: Funciona da mesma forma que a pílula. Se uso contínuo, suspender de imediato. Se uso com pausa, parar na pausa. Comportamento bem semelhante ao da pílula após
- DIU hormonal e não hormonal: Vai precisar da ajuda de um médico para a retirada. Pode ser ambulatorial, no próprio consultório, ou pode necessitar de um procedimento chamado histeroscopia para aqueles casos em que o fio não está visível. Para o DIU de cobre, as menstruações não foram suspensas e continuarão a ocorrer naturalmente. Para o DIU Hormonal (Mirena, por exemplo), a menstruação pode demorar de 1 a 3 meses.
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Para todos os casos, seria interessante esperar a primeira menstruação natural para se tentar a gravidez, evitando-se, assim, a ansiedade que se dá pelo "atraso menstrual" natural pós parada do anticoncepcional. Se a gravidez ocorre antes mesmo da menstruação, isso não trará repercussões à gestação ou ao bebê.
Efeitos no corpo após parar o anticoncepcional
O período de adaptação após parada do anticoncepcional pode ser bastante sofrido se não se fizer a preparação adequada. São alterações comuns:
- TPM e oscilações de humor: podem provocar aumento do apetite e compulsão por doces. Invista na alimentação com chás calmantes, 1 tablete de chocolate amargo e exercícios físicos e de relaxamento
- Cólicas, sangramento mais intenso e mais prolongado: pode-se usar um anti-inflamatório (se não houver contraindicação) além de compressa morna. Aparecimento de acne: cuide bem da pele, controle a oleosidade e, se necessário, consulte um dermatologista para ajudá-la
- Irregularidade menstrual: na maioria das mulheres, porém, cerca de 3 meses após, o ciclo já estará regularizado. Se persistir, consulte seu ginecologista para avaliar alterações hormonais
- Aumento de pelos: a parada do anticoncepcional faz aumentar a testosterona livre no corpo e, por isso, pode provocar engrossamento da voz e aumento de pelos. Se houver incômodo, invista em depilação, que pode ser definitiva, e no clareamento dos pelos.
Benefícios de parar o uso do anticoncepcional
Há, porém, benefícios que podem ocorrer. São eles:
- Aumento da libido: ocorre um aumento do apetite sexual devido ao aumento da testosterona livre
- Melhora da acne: a depender de qual anticoncepcional era utilizado, pode haver melhora na pele
- Aumento na secreção vaginal: essas secreções refletem as alterações hormonais durante o ciclo e significam que seus ovários estão funcionando "à pleno vapor"
- Consciência do natural: para muitas mulheres, deixar seu corpo operar da forma mais natural possível pode ser muito importante. Muitas lutam, inclusive, contra as "imposições sociais" e de como devem se comportar ou cuidar do corpo.
Independentemente de tudo, para os médicos, respeitar a individualidade de cada mulher, seus desejos e seus medos e fornecer todas as orientações necessárias é o que deve sempre ser pautado.
Para você, mulher, seja protagonista da sua saúde! Cuide de si mesma e seja questionadora! Antes de utilizar hormônios ou de pará-los, informe-se bem! O mais importante é você se sentir bem e estar feliz com suas escolhas.
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