Facebook deu acesso a contatos e mensagens privadas de usuários a Amazon e Netflix
Durante anos, o Facebook deu a várias empresas, como Amazon e Netflix, um acesso mais amplo do que o divulgado anteriormente a dados pessoais de usuários. Mais de 150 empresas de tecnologia, entre elas Microsoft, Spotify e Yahoo, tiveram acesso a mensages privadas e informações sobre a rede de contatos desses usuários, informou nesta quarta-feira o jornal americano "The New York Times". Ao fazer isso, a companhia de Mark Zuckerberg isentava suas parceiras de seguirem sua regras usuais de privacidade.
NOVA YORK — Durante anos, o Facebook deu a várias empresas, como Amazon e Netflix, um acesso mais amplo do que o divulgado anteriormente a dados pessoais de usuários. Mais de 150 empresas de tecnologia, entre elas Microsoft, Spotify e Yahoo, tiveram acesso a mensages privadas e informações sobre a rede de contatos desses usuários, informou nesta quarta-feira o jornal americano "The New York Times". Ao fazer isso, a companhia de Mark Zuckerberg isentava suas parceiras de seguirem sua regras usuais de privacidade.
A investigação do "Times" se baseou em mais de 270 páginas de documentos internos do Facebook e entrevistas com mais de 50 ex-funcionários da empresa e seus chamados "parceiros de integração", bem como ex-funcionários do governo e órgãos de defesa da privacidade.
Os registros obtidos pelo "Times", gerados em 2017 pelo sistema interno da empresa para acompanhamento de parcerias, fornecem o quadro mais completo das práticas de compartilhamento de dados da rede social. Eles também ressaltam como as informações pessoais se tornaram a mercadoria mais valorizada da era digital, negociada em larga escala por algumas das empresas mais poderosas do Vale do Silício.
O intercâmbio beneficiou todas as empresas envolvidas. O Facebook conseguiu mais usuários, aumentando sua receita de publicidade. As companhias parceiras, por sua vez, adquiriram recursos para tornar seus produtos mais atraentes. E o Facebook assumiu um poder extraordinário sobre as informações pessoais de seus 2,2 bilhões de usuários — controle que tem exercido com pouca transparência ou supervisão externa, frisa do "Times".
Sem consentimento dos usuários
De acordo com o jornal, a rede social permitiu que o mecanismo de busca Bing da Microsoft visse os nomes de praticamente todos os amigos dos usuários do Facebook sem consentimento. De acordo com os registros, deu ainda à Netflix, ao Spotify e ao Royal Bank of Canada a capacidade de ler, escrever e excluir as mensagens privadas de seus usuários.
Mark Zuckerberg participa de audiência no Senado americano: documentos internos comprovam que Facebook deu a empresas de tecnologia maior acesso do que o divulgado anteriormente a dados pessoais de usuários Foto: . / New York Times
A rede social permitiu ainda que a Amazon obtivesse nomes de usuários e informações de contato por meio de seus amigos, e permitiu que o Yahoo visualizasse fluxos de mensagens entre o usuário e sua rede de amigos, apesar das declarações públicas de que havia interrompido esse tipo de compartilhamento anos antes.
Nos últimos meses, o Facebook se envolveu em uma série de escândalos de privacidade, iniciados em março, após a revelação de que uma empresa de consultoria política, a Cambridge Analytica, utilizou indevidamente dados coletados no Facebook para impulsionar a campanha do então candidato republicano à presidência, Donald Trump. Na tentativa de reconquistar a confiança dos usuários na plataforma, o diretor executivo da companhia, Mark Zuckerberg, garantiu perante congressistas, em abril, que as pessoas "têm controle completo" sobre tudo o que compartilham na rede social.
Entretanto, os documentos, assim como entrevistas com ex-funcionários do Facebook e de empresas parceiras, revelam que a rede social permitia que certas companhias acessassem dados, apesar das proteções de privacidade. Também levantam dúvidas se um acordo com a Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês), que proibiu a empresa de compartilhar dados de usuários sem consentimento explícito, foi violado.
Os acordos descritos nos documentos beneficiaram mais de 150 companhias — a maioria do setor de tecnologia, mas também montadoras e empresas de mídia. Suas aplicações vasculharam dados de centenas de milhões de pessoas todos os meses. Os contratos, os mais antigos datados de 2010, estavam todos ativos em 2017 e alguns vigoravam ainda neste ano.
Facebook: parcerias encerradas
Na noite de terça-feira, o Facebook disse que as "parcerias de integração" não estão mais em vigor. Steve Satterfield, diretor de privacidade e políticas públicas da empresa, afirma que nenhuma das parcerias violou a privacidade dos usuários ou o acordo com a FTC, pois os contratos exigiam que as parceiras respeitassem as políticas do Facebook. Entretanto, reconheceu os problemas enfrentados pela companhia ao longo do ano.
— Nós sabemos que precisamos reconquistar a confiança das pessoas — afirmou Satterfield. — Proteger as informações das pessoas requer equipes fortes, tecnologias melhores e políticas mais claras, e foi nisso que focamos em 2018.
Uma porta-voz afirmou que não foram encontradas evidências de que as parceiras teriam violado os acordos. Algumas das maiores parceiras, incluindo Amazon, Microsoft e Yahoo, afirmaram que os dados foram usados de maneira apropriada, mas se negaram a discutir detalhes dos contratos. Segundo Satterfield, a maioria das parcerias não exigia que a rede social garantisse consentimento dos usuários para o compartilhamento de dados, pois a companhia considerava os parceiros como extensões da própria empresa.
Contudo, especialistas levantam dúvidas sobre essa posição, pois é difícil defender que negócios diversos, como empresas de buscas, varejistas e fabricantes de aparelhos possam ser vistos da mesma forma.
— O único ponto em comum é que eram parceiros que se beneficiariam da companhia em termos de desenvolvimento ou crescimento numa área que ela não teria como acessar — comentou Ashkan Soltani, ex-chefe de tecnologia na FTC. — Isso é dar a terceiros permissão para coletar dados sem informar e sem o consentimento do usuário.
— Eu não acredito ser legítimo entrar em parcerias de compartilhamento de dados sem o consentimento dos usuários — criticou Roger McNamee, um dos primeiros investidores do Facebook. — Ninguém deveria confiar no Facebook até que ele mude seu modelo de negócios.
Petróleo do século XXI
Os dados pessoais são recursos valiosos, considerados o petróleo do século XXI. Apenas o mercado americano movimentou cerca de US$ 20 bilhões na aquisição e processamento dessas informações neste ano, segundo o Escritório de Publicidade Interativa. O Facebook nunca vendeu essas informações, para não fornecer a terceiros seu mais valioso bem. Em vez disso, ofereceu a outras companhias acesso a partes da rede social.
Segundo relatos de ex-funcionários, existia uma ferramenta para ligar ou desligar o acesso privilegiado aos dados para os parceiros, mesmo após, publicamente, o Facebook ter encerrado essa prática, em 2014. Os documentos analisados pelo "Times" mostram que, em 2017, Sony, Microsoft, Amazon e outras tinham acesso a endereços de e-mail a partir de contatos. Spotify, Netflix e o Banco Real do Canadá podiam ler, escrever e apagar mensagens privadas dos usuários. Porta-vozes do Spotify e da Netflix afirmaram que desconheciam essas permissões concedidas pelo Facebook. O Banco Real do Canadá negou que o banco teria tais acessos.
O Yahoo podia ver em tempo real as publicações na linha do tempo dos usuários, permissão que era usada para uma ferramenta encerrada em 2011. Um porta-voz da empresa se negou a discutir os detalhes da parceria, mas afirmou que a empresa não usa essas informações para a publicidade. O próprio "New York Times", um dos nove grupos de mídia citados nos documentos, tinha acesso a listas de amigos dos usuários, para uma aplicação de compartilhamento de matérias descontinuado também em 2011. Uma porta-voz do jornal afirmou que os dados não estavam sendo coletados.
Até mesmo fabricantes de equipamentos, como a Apple, mantinham contratos de parceria. O Facebook permitia que a fabricante de iPhones escondessem de seus usuários indícios de que os aparelhos estavam requisitando dados. A Apple também tinha acesso a números de contatos e entradas em calendários de pessoas que haviam mudado as configurações para bloquear compartilhamentos.
A Apple defende que não estava ciente de que o Facebook havia concedido aos seus dispositivos acesso especial. E defenderam que todos os dados compartilhados nos aparelhos não estavam disponíveis para ninguém além dos donos.
Em comunicado à CNN, a Amazon informou que usa interfaces de software fornecidas pelo Facebook para fornecer aos usuários experiências do Facebook em produtos da marca, como a opção de sincronizar contatos da rede social com um tablet da Amazon. A Microsoft informou que os dados fornecidos pelo Facebook pararam de aparecer nos resultados do Bing após o contato ser encerrado, em fevereiro de 2016.
Também em nota, a Netflix afirmou que ao longo dos anos vem tentando tornar a Netflix mais social. "Um exemplo disso foi o recurso que lançamos em 2014 que permitiu que os membros recomendassem programas de TV e filmes para seus amigos do Facebook via Messenger ou via Netflix. O recurso nunca foi muito popular, então o desligamos em 2015. Em nenhum momento acessamos as mensagens particulares das pessoas no Facebook ou pedimos para conseguir fazê-lo."
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