December 14, 2018
RIO — Desde que abriu as portas, em 2013, em Paris, a École 42 apostou num modelo diferente de educação: sem professores, horários fixos nem diplomas. Criada pelo bilionário francês Xavier Niel, a escola de inovação recebeu apoio de personalidades da indústria de tecnologia, como Evan Spiegel, criador do Snapchat; Jack Dorsey, diretor executivo do Twitter; e Brian Chesky, cofundador do Airbnb. Em 2016, uma filial foi aberta no Vale do Silício, e hoje a École 42 possui franquias na Romênia, Moldávia, Ucrânia, Rússia, Bélgica, Lyon (França), Marrocos, África do Sul e Holanda. No ano que vem, serão abertas escolas na Indonésia, Colômbia, Finlândia, Espanha e no Rio de Janeiro, Brasil.
Seguindo os moldes da matriz francesa, a École 42 carioca será gratuita, com previsão de abertura para julho do ano que vem. Qualquer pessoa, entre 18 e 30 anos, poderá disputar uma das 450 vagas que serão oferecidas. O processo seletivo começa com um teste on-line, aberto, e os selecionados são convidados a participarem da “piscina”, um bootcamp com duração de um mês para definir quem entra ou não na escola. Em Paris, cerca de 30 mil pessoas participam da primeira fase, 3 mil são selecionados para o bootcamp, que seleciona 900 novos alunos. No Rio, a expectativa é que 1,3 mil sejam selecionados para a “piscina”.
— Essa "piscina" é uma imersão total em programação, com 450h de codificação — explicou Olivier Crouzet, diretor pedagógico da École 42, exnfatizando o motivo para a não aceitação de menores de 18 anos. — Não queremos que os jovens deixem o sistema tradicional apenas para entrar na 42. Como dizemos na França, “termine primeiro o seu bac“ (baccalauréat, exame realizado ao fim do ensino médio, como o Enem).
Os selecionados irão se deparar com um modelo de educação completamente diferente do sistema tradicional. Não há turmas fixas, nem horários. O currículo é flexível e inspirado nos videogames: os projetos concluídos dão pontos de experiência, que precisam ser conquistados até que o aluno alcance o nível 21. Em média, a formação dura três anos, mas alguns terminam antes e outros, depois. Não há exigência que os estudantes compareçam à escola, mas existem projetos em grupo e reuniões podem ser importantes.
O material didático será adaptado para o Brasil e toda a equipe pedagógica, formada por apenas 14 profissionais, será treinada por funcionários da escola francesa.
A franquia carioca será gerenciada pela Fábrica de Startups e pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) — mantenedor do Museu do Amanhã —, com recursos de um pool de empresas privadas. Segundo Héctor Gusmão, diretor executivo da Fábrica de Startups Brasil, o objetivo da École 42 será formar novos empreendedores e qualificar mão de obra para empresas de tecnologia, inclusive para as start-ups que forem aceleradas na Fábrica.
— A gente fala muito sobre desenvolver o ecossistema de empreendedorismo e a formação de mão de obra é essencial para isso — afirmou Gusmão. — Na Fábrica, nós teremos start-ups precisando de funcionários, e a École 42 poderá suprir essa demanda.
Cotas para moradores da região
Com a experiência de ter participado da criação do Porto Digital, em Recife, Ricardo Piquet, diretor presidente do IDG, destacou a importância do projeto para a comunidade no entorno do Porto. O percentual ainda não foi definido, mas haverá uma cota mínima das vagas para jovens moradores da região.
— Nós vamos priorizar os talentos que já são nossos vizinhos. Não podemos trazer uma novidade sem considerar a comunidade que já está lá — afirmou Piquet. — Como princípio, vamos estabelecer um percentual de vagas para que os jovens da região possam usufruir desse investimento.
Quem pode se inscrever?
A École 42 selecionará alunos com idades entre 18 e 30 anos, com ou sem experiência em computação.
Quantas vagas serão oferecidas?
O objetivo é preencher 450 vagas por "piscina".
Quando a escola começa a funcionar?
A École 42 abre as portas em julho, mas o processo de seleção deve acontecer em maio.
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