Senado ·
October 15, 2018
Da Redação |
15/10/2018, 13h16
O crescimento do ensino a distância (EAD) e a crise
econômica no país estão impondo dificuldades às instituições
comunitárias de ensino superior, relataram representantes do setor em
audiência pública no Senado. O debate foi feito na Comissão de Direitos
Humanos e Legislação Participativa (CDH) nesta segunda-feira (15), data
em que se celebra o Dia do Professor.
De acordo com os participantes da audiência, faculdades comunitárias
presentes no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, apesar do excelente
nível de ensino, estão perdendo professores e profissionais por falta de
alunos. A maioria dos estudantes está ingressando em cursos de EAD, que
são mais baratos, mas pecam pela baixa qualidade do ensino, afirmaram
os debatedores.
Os convidados também disseram que os programas que beneficiam a
educação, como o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino
Superior), precisam de uma boa gestão e deveriam se tornar programas de
Estado, não apenas de governo.
A preocupação com a qualidade da educação em geral também foi
debatida na audiência. Segundo os presentes, as crianças brasileiras têm
sido alfabetizadas, em média, no quarto ano do ensino fundamental. Além
disso, afirmaram os participantes, no final do ensino médio, 83% dos
jovens não aprenderam o fundamental de matemática e 73% não aprenderam o
necessário em português, fazendo com que um terço dos alunos do ensino
superior sejam analfabetos funcionais.
O senador Paulo Paim (PT-RS), que presidiu a reunião, saudou a todos
os professores do país e chamou-os de “verdadeiros heróis”, por serem
tão desvalorizados. Ele disse que a educação é a solução para a melhoria
do Brasil. Paim também se comprometeu a enviar o conteúdo da audiência
aos dois candidatos à Presidência da República.
Políticas públicas
O Plano Nacional de Educação (PNE) tem, entre suas metas, a de que
33% dos jovens entre 18 e 24 anos estejam no ensino superior até 2024.
De acordo com o presidente do Fórum das Faculdades Comunitárias, Antonio
Ternes, atualmente essa porcentagem permanece estática em 18%, após um
crescimento, entre 2011 e 2014, de 5%. Ele explicou que o Fies
impulsionou essa expansão, mas que atualmente problemas como a
inadimplência e a má gestão fizeram com que as universidades
restringissem o crédito aos alunos.
— O que acontece no Brasil não é um problema de recursos. Sabe-se que
no Brasil são destinados 5,5% do PIB para a educação. Em países onde a
educação é tida como referência no mundo, como a Finlândia, essa relação
com o PIB é de 5%. O problema é realmente gestão, é a alocação
eficiente de recurso — afirmou.
Para Bruno Eizerik, do Sindicato de Ensino Privado do Rio Grande do
Sul, o Fies não pode ser gerido pelo Ministério da Fazenda, mas pelo da
Educação. Eizerik também disse que o Pronatec, destinado a colocar os
jovens no ensino técnico, precisa ser retomado.
EAD
Os debatedores afirmaram que não são contra o ensino a distância, mas
que a qualidade e a fiscalização desse tipo de ensino precisa melhorar.
De acordo com Bruno Eizerik, nas pequenas cidades, onde há as
faculdades comunitárias, está havendo uma sobreposição da criação de
polos em EAD.
De acordo com Helenice Reis, do Conselho Regional de Administração do
Rio Grande do Sul, os cursos a distância são importantes, por chegarem a
pessoas que não poderiam estar num ensino presencial. No entanto,
ressalvou, a qualidade da maioria deles é ruim, pois são cursos
enfadonhos e com pouca interação. Ela defendeu a melhoria na avaliação
dos cursos em EAD.
— Esses critérios têm que ser feitos da mesma forma que é feita a
avaliação de cursos presenciais. Não é possível fazer a avaliação que se
faz num curso presencial só numa sede de uma universidade que tem 250
polos de cursos a distância — disse.
A senadora Ana Amélia (PP-RS), que participou da audiência pública,
relatou que em outra audiência de que participou, em julho, no Rio
Grande do Sul, constatou-se que havia cursos instalados em "fundos de
quintal", cobrando R$ 48 de mensalidade.
— Isso é a vulgarização, a depreciação de um mecanismo de ensino que é
importante. O EAD é muito importante, mas não podemos admitir que
chegue a esse baixo nível — disse a senadora.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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