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Mãe aponta fraude no exame de filha vítima de câncer em Pelotas, numa unidade do SUS

noticias.r7.com · Julho 16, 2018

Nair e a filha, Greice, que morreu de câncer aos 33 anos

Arquivo Pessoal

Dona Nair Ribeiro Alvaides, de 57 anos, não consegue se conformar com a morte da filha. “Fiquei revoltadíssima”, diz a mãe que viu a filha sucumbir ao câncer de colo de útero. De acordo com a mãe, Greice Ribeiro Alvaides Dóro, de 33 anos,fez o exame preventivo de câncer, o Papanicolau, na rede pública de saúde de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
“Menos de dois meses depois ela começou a sangrar. Procuramos um médico particular e descobrimos que ela já estava tomada pelo câncer, que não tinha mais como fazer cirurgia”, lamenta a mãe.
O câncer que começou no útero se espalhou, foi para a bexiga e para a parte interna da vagina. Greice lutou por mais de um ano, mas não conseguiu resistir e morreu no dia 22 de janeiro de 2018.
Dona Nair tem certeza que a filha é uma vítima da suposta fraude dos exames preventivos de câncer de colo de útero do SUS (Sistema Único de Saúde) de Pelotas. Ela conta que pretende denunciar e contar a história da filha para que o sofrimento não se repita.
“Sei que minha filha não volta mais, mas se através dela outras mães puderem evitar essa dor que sinto, farei de tudo para que ninguém passe por isso”, diz dona Nair.
As acusações vieram à tona na semana passada. O laboratório SEG – Serviço Especializado em Ginecologia, que tem contrato com a prefeitura de Pelotas, está sendo acusado de fraudar os exames que deveriam apontar possíveis lesões de colo de útero nas mulheres atendidas na rede municipal de saúde.

Greice durante o tratamento

A denúncia foi feita por médicos e enfermeiros da UBS Bom Jesus, que fica em um dos maiores bairros da cidade. A equipe percebeu uma redução muito grande no número de casos da doença. Entre janeiro de 2014 e junho de 2017, nenhuma mulher que fez o exame teve alteração descrita no resultado.
Uma tabela de exames da mesma unidade de saúde mostrou que antes deste período, 44 resultados emitidos pelo mesmo laboratório apontaram lesões cancerígenas.
A suspeita é que as amostras coletadas nas unidades de saúde e enviadas para o SEG foram analisadas por amostragem: a cada 100, apenas uma era, de fato, examinada. De acordo com as médicas que fizeram a denúncia, mesmo pacientes com lesões aparentes recebiam resultado “normal”.
Quase 7 mil exames por ano
De acordo com o Portal Transparência, em 2017 o laboratório recebeu um total de 6.923 amostras para preventivo de câncer de colo de útero. Segundo a ata de licitação, para cada amostra, o SEG recebeu R$ 7,45. Isso significa que, em 2017, o laboratório recebeu R$ 51.578,35.
Na tabela base do SUS, o exame Papanicolau sem biópsia custa R$ 6,97.
R7 entrou em contato com a advogada que representa o laboratório, Christiane Ualt Fonseca. Ela disse que a proprietária do laboratório SEG não irá dar entrevista. A manifestação sobre caso ocorrerá somente “através de nota de esclarecimento à população na segunda-feira”.
A prefeitura publicou em seu site oficial uma nota de esclarecimento. De acordo com o texto, a prefeitura recebeu a primeira denúncia, um “memorando em que profissionais da UBS Bom Jesus manifestaram dúvida quanto aos resultados dos exames”, em julho de 2017.
Segundo a nota, depois disto uma equipe da Vigilância Sanitária foi até o laboratório para uma fiscalização e solicitou os relatórios de monitoramento interno de qualidade. O material foi entregue e o SEG teve o alvará sanitário renovado até o dia 23 de novembro deste ano.
Ainda de acordo com a nota, depois da denúncia feita pela imprensa, a prefeitura voltou a solicitar os relatórios de qualidade do laboratório – que se comprometeu a entregar até esta segunda-feira (16).
O comunicado encerra dizendo que a secretaria municipal de saúde “voltará a se manifestar formalmente sobre o assunto após receber e analisar os relatórios do SEG”.
Ministério Público e CPI
O MP-RS (Ministério Público do Rio Grande do Sul) vai investigar o caso. Um inquérito civil público foi aberto e está sob responsabilidade da promotora Ângela Rotundo.
A câmara de vereadores de Pelotas informou que também pretende levar a denúncia para o Ministério Público Federal “pois trata-se de verba do Sistema Único de Saúde”.
De acordo com o vereador Marcos Ferreira (PT), presidente da Comissão de Saúde da câmara, a intenção é levar a denúncia também para a Assembleia Legislativa, Câmara de Deputados e Senados, pois “trata-se de recursos das três esferas”. Além disso, na terça-feira (17) devem iniciar os trabalhos da CPI da Saúde, que também vai analisar o caso.
“Este pode ser o maior crime já cometido na saúde em Pelotas, visto que o câncer não tem cura, um dia sem tratamento é um dia a menos de vida”.
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