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As histórias reais por trás dos vikings da série.

Por Alexandre de Santi -
Atualizado em 7 jun 2018, 17h53 - Publicado em 1 jul 2016, 20h45-



Ragnar Lodbrok, o fazendeiro que se se torna rei na Escandinávia do século 9, e protagoniza Vikings, a série do History Channel, provavelmente é uma lenda. Como os nórdicos não deixaram relatos escritos, sua mitologia atravessou os séculos na voz de poetas, os skalds, que criavam narrativas coloridas das aventuras dos guerreiros para celebrar suas vitórias. Mais tarde, esses poemas abasteceram as “sagas”, que são os relatos épicos redigidos na Islândia do século 13, ou seja, quando o período viking já havia terminado. Os islandeses tinham interesse em transformar seus antepassados em heróis. Um desses heróis fictícios seria Ragnar Lodbrok.
Mas nem tudo é fantasia. Há dezenas de menções a personagens com nomes similares ao de Ragnar em eventos ocorridos entre 845 e 865. De acordo com a pesquisadora Elizabeth Rowe, da Universidade de Cambridge, que estudou a lenda de Ragnar, o herói pode ter nascido entre 808 e 812. Em 841, um nórdico conhecido apenas pelo seu nome latinizado, Ragenarius, ganhou terras na região da Frísia (atual Holanda) como presente de Carlos, o Calvo, rei dos francos. Seja como for, Carlos e Ragenarius se tornaram inimigos depois. Em 845, um viking que os francos chamavam de Reginheri (outro nome latinizado, porque era ass), liderou o famoso cerco a Paris — acontecimento chave da terceira e da quarta temporada da série. Esse homem seria um parente próximo do rei Horik (que dominou parte da Dinamarca no século 9).
Há a possibilidade de Ragenarius e Reginheri serem a mesma pessoa, o que transformaria o saque num tipo de vingança contra o rei Carlos, mas historiadores divergem a respeito disso. “Eu não acho que algum dia existiu uma figura histórica conhecida como Ragnar Lodbrok”, concluiu a pesquisadora no seu livro Vikings in the West: The Legend of Ragnarr Loðbrók and His Sons(“Vikings no Oeste: a Lenda de Ragnarr Loðbrók e Seus Filhos”, sem tradução para o português).
Reginheri teve um fim nada glamouroso: foi vítima de disenteria logo após o ataque a Paris, quando tinha entre 33 e 37 anos. O do Ragnar das lendas também não chega a ser heróico, mas é bem mais teatral. Anos depois de ter saqueado Paris, Ragnar decide voltar ao reino da Nortúmbria para se vingar do rei local Aella, seu antigo desafeto. Só que não deu certo: seus barcos afundaram próximos da praia, e ele acabou capturado. Cansado de se defender dos vikings, Aella, o rei da Nortúmbria, um dos reinos que viriam a formar a Inglaterra, armou uma vingança contra Ragnar: jogou o guerreiro num tanque de cobras venenosas. Ragnar (cujo segundo nome, Lodbrok, era um apelido que pode ser traduzido como “calças peludas” em referência ao traje que teria usado para capturar uma serpente) teria declamado poemas vikings enquanto se defendia dos répteis e, em suas últimas palavras, profetizou que seus filhos vingariam sua morte.
Björn Ironside, que seria um desses filhos, é um personagem histórico mesmo. Ele fez saques memoráveis no Mar Mediterrâneo entre os anos de 859 e 862. Um dos relatos conta que Björn chegou à cidade italiana de Pisa. Depois de saqueá-la, seguiram terra adento até outra cidade, Luna — e achou que tivesse chegado a Roma. Para conseguir entrar na cidade, Björn mandou emissários inventarem a história de que os vikings aportados ali eram exilados em busca de comida e de um enterro cristão para seu chefe morto.
A população permitiu a passagem do caixão até que o capitão de Björn, Hastein saltou lá de dentro e saqueou a cidade com seu bando. Quando descobriram Luna não era Roma, mandaram matar todos os homens do vilarejo. Mesmo tendo retornado com uma esquadra minguada dessa expedição mediterrânea, Björn ainda se aventurou em saques pela Inglaterra e França, sempre saindo ileso — o filho de Ragnar teria essa incrível capacidade de sobreviver a batalhas sangrentas, daí o apelido “Flanco de Ferro”. Björn retornou à Escandinávia e assumiu o reino de Uppsala (na atual Suécia). Björn acabaria retratado nas sagas como filho do mitológico Ragnar por uma questão estética. O autor provavelmente pegou vários reis Escandinavos que existiram em épocas e lugares diferentes, e criou uma história na qual todos eram filhos de um mesmo, e heroico, pai.
Ivarr the Boneless foi o mais célebre dos reis “filhos de Ragnar”. A origem do apelido “sem ossos” é incerta — o mais aceito é que realmente faça alusão a alguma má formação física, seja de nascença, como a série mostra, seja por alguma doença degenerativa (como a miastenia, que aflige Stephen Hawling). Seja como for, tinha a fama de ter braços tão fortes que suas flechas seriam mais poderosas que as dos companheiros. Ivarr liderou um exército que invadiu a Grã-Bretanha em 865 e se estabeleceu em York, norte da Inglaterra. Depois ainda dominou Dublin, assumindo ali o posto de rei.
Por último, só que mais importante que Ivarr, Björn e o próprio Ragnar, ainda termos o grande…
… Rollo. Grande mesmo. As sagas o retratam como um homem tão corpulento que “um cavalo nem podia carregar”. “Rollo”, por sinal, é uma latinização do nome original: Hrólf. Bom, Hrólf  invadiu a França e, em 911, chegou a Paris navegando pelo rio Sena. Quando os franceses contra-atacaram, o comandante viking tinha matado todos os cavalos, vacas e animais que encontrara. Construiu uma barreira com os corpos empilhados, e o cheiro do sangue amedrontou os cavalos de seus adversários, que recuaram. Foi nesse momento que o rei francês sugeriu um acordo: os invasores podiam ficar na região, mas a defenderiam de outros ataques dos homens do Norte. Hrólf foi convertido ao cristianismo e rebatizado como Rollo, assumindo a região do norte da França conhecida como Normandia, justamente por causa da origem dos novos habitantes. Rollo casou com a filha do rei Charles 3º, e seu tataraneto William, o Conquistador, foi o primeiro rei normando da Inglaterra. Por isso, Rollo seria a origem indireta de toda a monarquia europeia, inclusive da atual família real britânica. Na série Vikings, Rollo é irmão de Ragnar, mas isso não tem nem na mitologia nórdica: foi só licença poética dos roteiristas mesmo.

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