Uma nova pesquisa feita com homens brasileiros mostra que questões de saúde mental são uma realidade cada vez mais presente no universo masculino. Segundo o levantamento, 83% dos homens já se sentiram estressados, 74% sofreram com ansiedade, 34% enfrentaram depressão e 26% tiveram ataques de pânico. Endividamento e insatisfação com o trabalho podem estar entre as principais causas desse sofrimento psíquico.
Os números fazem parte da pesquisa "O que pensa o homem brasileiro", realizada pelo Instituto Ideia em parceria com a revista GQ e divulgada esta semana. Foram quase 700 entrevistas realizadas entre 5 e 11 abril, com homens de todas as faixas de idade, níveis sociais e regiões do país. O levantamento foi feito via um aplicativo de celular e utilizou uma amostragem que reflete o conjunto dos brasileiros segundo o Censo de 2010 e a PNAD (pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2021.
Se a saúde mental está em xeque, a autoestima (ou um olhar mais condescendente consigo mesmo) parece ir bem. Entre os homens, 47% se acham bonitos e 44% medianos. Só 3% se consideram feios e 6% não têm opinião. Além disso, 28% se acham mais inteligentes que a média, a maioria se considera na média, e apenas 7% se acham menos inteligentes.
Reflexo dessa autoestima em alta (ou talvez por resistência em relação aos procedimentos estéticos) só 13% topariam uma plástica e 9% aplicariam botox. Em contrapartida, 16% já fizeram terapia e outros 65% topariam falar das suas questões emocionais com um profissional. Será mesmo que a pandemia e os tempos atuais trouxeram um aumento da percepção da importância com os cuidados emocionais para esse público masculino? A checar...
Apesar da alta prevalência das questões de saúde mental, duas queixas físicas estão entre os sintomas mais citados pelos homens: 89% deles já tiveram dor de cabeça e 82% dores nas costas. Por falar em corpo, os cuidados com ele são muito desiguais. Homens das classes A e B e das regiões metropolitanas são mais ativos (60% praticam atividades físicas) e tendem a se cuidar mais. Homens das classes D e E e moradores de cidades do interior são mais sedentários.
Sexualidade e machismo
Em relação à sexualidade, 25% já enfrentaram dificuldades de ereção e 33% já lidaram com ejaculação precoce. Quando se olha alguns outros dados da pesquisa, pode-se perceber que esse homem ainda luta com a desconstrução do seu machismo (boa parte talvez nem esteja tentando), o que pode impactar também a forma como ele lida com o sexo e com eventuais dificuldades nessa esfera.
Apesar de valorizar a inteligência feminina e respeitar o sucesso profissional das parceiras, o feminismo é rejeitado por 44% dos homens e apoiado por 34%. Outros 44% (pasme!) dizem que a virgindade antes do casamento ainda é algo importante. Os homens mais jovens (18 a 24 anos) são ainda mais conservadores e quase 51% valorizam a castidade feminina.
Jovem: mais nudes e menos sexo
Esse homem jovem também é o que menos valoriza a importância do sexo físico (talvez um reflexo da vida cada vez mais digital). Em uma escala de zero a 10, só 50% deles acha que sexo é muito importante (notas 8, 9 e 10), já entre o público geral (todas as faixas etárias) quase 70% consideram sexo muito importante.
Para outros 10% dos jovens, as notas dadas à importância do sexo físico foram 0 ou 1 (ou seja, sem importância nenhuma). Para os homens em geral, essa taxa foi de 3%! Em contrapartida, os nudes estão em alta nessa faixa etária! Metade deles já enviaram esse tipo de foto e 40% assistem pornografia regularmente. Moral da história: o desejo parece estar muito mais ligado às imagens e à tela do que ao olho no olho e à intimidade.
Esse jovem apesar de mais estressado que a média geral da pesquisa (89% já enfrentaram estresse) também é o mais resistente a buscar terapia. Um quarto deles não faria esse tipo de atendimento de jeito nenhum.
Homem ainda resiste em se cuidar
Os principais achados da pesquisa reforçam algumas tendências conhecidas quando se pensa em saúde e comportamento masculinos e mostra que, apesar de algumas mudanças que começam a se desenhar, esse homem ainda tem dificuldades em lidar com questões de cuidados com seu corpo, sua saúde mental e sua sexualidade. E boa parte dessas dificuldades ainda tem a ver com o machismo.
Esse homem avança algumas casas na relação com o gênero feminino, mas ainda se depara com a sua própria concepção de mundo. Nesse contexto, buscar ajuda de um profissional para cuidar da saúde e falar sobre dificuldades emocionais ainda é muito mais difícil para o homem do que para a mulher.
Sem esse suporte profissional, e muitas vezes com dificuldades até para falar com amigos e buscar redes de apoio —e com uma pressão crescente para ganhar dinheiro—, consumir, parecer estar sempre bem e impressionar a parceira (e seus pares, claro!), o risco de enfrentar dificuldades emocionais e sofrer impactos na saúde física e mental ficam bem maiores. E é claro que isso tudo pode irradiar também para a esfera sexual, com consequente aumento das dificuldades e piora do desejo e da performance.
Se para os homens jovens esses impedimentos e limites parecem ser mais importantes do que para outras faixas de idade (talvez pela falta de experiência, de autoestima e de maturidade), fica ainda mais evidente a importância do diálogo em casa e o papel central da escola na discussão das questões de gênero que impactam o acesso desse garoto e do homem jovem a mais saúde e bem-estar.
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